Mentha é um gênero de plantas pertencente à família Lamiaceae. Amplamente distribuídas pelas regiões temperadas do mundo, as diversas espécies desse gênero tem sido utilizadas como ervas medicinais na medicina tradicional por milhares de anos. O hortelã-pimenta (Mentha piperita), uma de suas espécies mais populares, é uma erva perene que resulta do cruzamento entre Mentha spicata e Mentha aquatica.
A hortelã-pimenta possui um potencial imenso como fonte de bioativos naturais para o desenvolvimento de produtos voltados à saúde nas indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética. Seu óleo essencial e extratos exibem uma ampla gama de bioatividades benéficas, tornando-a uma candidata versátil para abordar várias questões.
Composição Química
- Óleo essencial rico em mentol, mentona, limoneno, cineol e outros monoterpenos e sesquiterpenos.
- Extratos contêm diversos compostos fenólicos como ácido cafeico, ácido rosmarínico, eriocitrina e derivados de luteolina.
Atividades Biológicas
- Antioxidante
- Antimicrobiana
- Anti-inflamatória
- Anticâncer
- Antiviral
- Antialérgica
- Anti-hipertensiva
- Analgésica
- Propriedades digestivas
O mentol, principal componente do óleo essencial de hortelã-pimenta (OEH), atua por meio da ativação do receptor TRPM8. Isso desencadeia uma cascata de efeitos, incluindo alívio da dor, redução da coceira e descongestionamento das vias aéreas. Um estudo de 2014 publicado em The Journal of Headache and Pain demonstrou a eficácia do OEH inalado na redução da intensidade e duração da dor de cabeça, destacando seu potencial no manejo da dor.
Além do mentol, a composição química diversificada do OEH, incluindo os monoterpenos e compostos fenólicos, contribui significativamente para suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Pesquisas sugerem que a aplicação tópica pode aliviar condições inflamatórias como dores musculares e artrite, conforme evidenciado por um estudo de 2013 que obteve resultados positivos para o OEH no tratamento da dor no joelho pós-operatória.
O sistema digestivo também pode se beneficiar do OEH. Suas propriedades antiespasmódicas relaxam o músculo liso no intestino, oferecendo alívio de inchaço, cólicas e sintomas da síndrome do intestino irritável. Uma revisão Cochrane de 2008 concluiu que o OEH é moderadamente eficaz no manejo dos sintomas da Síndrome do Intestino Irritável (IBS), com pesquisas em andamento para otimizar seu uso.
Ensaios clínicos têm explorado o potencial do OEH em vários contextos. Por exemplo, um estudo de 2023 realizado na Índia investigou sua eficácia na redução de náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia, com resultados preliminares promissores. Outro ensaio em andamento nos Estados Unidos avalia a eficácia do OEH no manejo de sintomas de rinossinusite crônica.
Um estudo duplo-cego, controlado por placebo, de 2018 com 24 adultos saudáveis constatou que doses mais altas de óleo essencial de hortelã-pimenta com alto teor de mentol melhoraram o desempenho em tarefas cognitivas exigentes e reduziram a fadiga mental 1-3 horas após o uso. Embora os mecanismos e os efeitos a longo prazo necessitem de mais investigação, isso sugere que o OEH tem benefícios potenciais para aprimoramento cognitivo e merece mais pesquisas.
Saúde da Pele
O óleo essencial de hortelã-pimenta apresenta vários benefícios potenciais para aplicações na pele, tanto em cosmetologia como em dermatologia, tornando-o um excelente aliado para uma pele saudável.
Ação Anti-inflamatória: O OEH possui propriedades anti-inflamatórias, reduzindo de forma eficaz a coceira, vermelhidão e descamação em pacientes com eczema e psoríase.
Atividade Antimicrobiana: Monoterpenos no OEH, incluindo limoneno e cineol, exibem notáveis propriedades antimicrobianas. Pesquisas sugerem que o OEH inibe o crescimento bacteriano associado à acne, potencialmente reduzindo a formação de lesões e promovendo uma pele mais clara.
Promoção da Cicatrização de Feridas: Os efeitos analgésicos do OEH, mediados pela ativação do receptor TRPM8 induzida pelo mentol, oferecem alívio da dor e sensação de resfriamento para a pele irritada e lesionada. Além disso, os ácidos fenólicos do OEH, como o ácido cafeico, aprimoram a cicatrização de feridas e minimizam a formação de cicatrizes.
Capacidade Antioxidante: O potencial antioxidante do OEH vai além da proteção celular geral. Ele atua especificamente no colágeno, proteína estrutural da pele, potencialmente estimulando sua produção e combatendo danos causados pelos radicais livres. Pesquisas indicam o potencial do OEH na redução de rugas e rejuvenescimento da pele.
Em conclusão, a hortelã-pimenta emerge como uma promissora medicina natural. Evidências científicas e ensaios clínicos em andamento abrem caminho para sua integração responsável nas práticas de saúde. Como qualquer composto potente, cautela é fundamental. O OEH pode irritar a pele sensível e as membranas mucosas, exigindo diluição adequada e indicação correta de uso. A ingestão, especialmente em doses elevadas, pode ser perigosa. É crucial consultar um profissional de saúde antes de incorporar o OEH em sua rotina de saúde e bem-estar para resultados seguros e positivos.
Referências
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Escrito por: Leticia Dadalt, PhD: Bióloga, apaixonada pela ciência da vida, traz uma bagagem acadêmica robusta para a arena da educação canábica. Sua jornada é dedicada a compartilhar conhecimento, quebrar estigmas e abrir caminhos para que mais pessoas possam explorar os benefícios terapêuticos dessa planta incrível.