Interações Medicamentosas

As nuances das interações medicamentosas com a cannabis medicinal. Informações sobre as potenciais influências nos tratamentos convencionais, especialmente com medicamentos metabolizados pelo citocromo P450. Como minimizar riscos, garantindo a segurança e eficácia dos pacientes.

Nas últimas décadas, houve um aumento no interesse pelo uso de produtos à base de cannabis no tratamento de várias condições de saúde. Em muitos casos, esses produtos são utilizados em conjunto com tratamentos medicamentosos convencionais. O potencial para interações medicamentosas (IMs) aumenta nesse cenário de polifarmácia. É importante lembrar que as IMs são uma das principais causas de reações adversas a medicamentos.

A cannabis medicinal tem o potencial de interagir com outros medicamentos, e é essencial estar ciente dessas interações para garantir a segurança do paciente e otimizar os resultados do tratamento. Vários estudos recentes exploraram as interações medicamentosas dos canabinoides, trazendo insights relevantes para os profissionais de saúde que trabalham com cannabis.

A interação mais significativa ocorre com medicamentos metabolizados pelo sistema enzimático do citocromo P450 (CYP). Ao influenciar esse sistema, pode-se alterar as concentrações e efeitos dos medicamentos. 

Mais especificamente, o canabidiol  (CBD) afeta alvos biológicos comuns implicados no metabolismo (por exemplo, CYP3A4/2C19) e na excreção (por exemplo, glicoproteína P), aumentando o potencial de IMs com medicamentos comumente utilizados. No entanto, com monitoramento próximo e ajustes de dose ao usar produtos à base de cannabis em combinação com outros medicamentos, essas interações tornam-se, na maioria dos casos, manejáveis.

Um estudo de 2021 publicado no no AAPS avaliou em um modelo in vitro o potencial inibitório de 12 canabinoides no metabolismo de drogas mediado pelo CYP para prever a probabilidade de interações medicamentosas clinicamente significativas entre terapias à base de cannabis e medicamentos convencionais. O efeito mais relevante ocorreu sobre CYP2C9, onde os canabinoides inibiram o metabolismo em concentrações provavelmente clinicamente relevantes, o que pode se traduzir em interações medicamentosas in vivo significativas. 

Adaptado de Doohan et al. 2021.

Considerações práticas

Aqui estão alguns medicamentos comuns que podem interagir com canabinoides:

1. Medicamentos com índice terapêutico estreito: Um estudo listou 57 medicamentos prescritos com índice terapêutico estreito que podem ser potencialmente afetados pelo uso concomitante de canabinoides.

2. Medicamentos metabolizados por CYP3A4/2C19.

3. Antiepilépticos: Um estudo investigou as possíveis IMs entre o CBD e antiepilépticos, como o clobazam, e descobriu que o CBD pode aumentar as concentrações séricas desses medicamentos, levando a aumento de efeitos adversos.

4. Varfarina: Alguns estudos investigaram especificamente a interação de canabinoides com anticoagulantes, sendo a Varfarina o que requere mais atenção, pelo potencial aumento do índice internacional normalizado (INR).

5. Medicamentos que causam sedação: canabinoides podem potencializar a ação de drogas sedativas, como benzodiazepínicos.

Para minimizar possíveis IMs, os profissionais de saúde podem considerar as seguintes estratégias:

  • Revisar a literatura publicada sobre interações medicamentosas.
  • Monitorar os pacientes quanto a eventos adversos quando usam canabinoides em combinação com medicamentos convencionais.
  • Ajustar as doses de medicamentos em pacientes complexos (polifarmácia) para mitigar possíveis interações.
  • Atentar-se aos efeitos inibitórios dos canabinoides em enzimas metabólicas específicas para antecipar possíveis interações com agentes terapêuticos convencionais.

Em conclusão, a cannabis medicinal tem o potencial de interagir com outros medicamentos, especialmente aqueles metabolizados pelo sistema enzimático do citocromo P450. Ainda assim, o perfil de segurança dos canabinoides é bastante alto, especialmente nas doses mais comumente praticadas. Os profissionais de saúde devem estar cientes dessas interações e considerá-las ao prescrever cannabis medicinal.

Referências

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Escrito por: Leticia Dadalt, PhD: Bióloga, apaixonada pela ciência da vida, traz uma bagagem acadêmica robusta para a arena da educação canábica. Sua jornada é dedicada a compartilhar conhecimento, quebrar estigmas e abrir caminhos para que mais pessoas possam explorar os benefícios terapêuticos dessa planta incrível.

Com sede no Vale do Silício, somos líderes em biotecnologia para suplementação nutricional, com certificado de boas práticas em manipulação pela regulamentação dos Estados Unidos. 

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