Dezembro é reconhecido globalmente como o Mês de Conscientização sobre o HIV. De acordo com a UNAIDS, cerca de 38 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com o HIV. Embora tenham sido feitos progressos significativos na prevenção, diagnóstico e tratamento de infecções por HIV, a situação ainda se mantém em níveis epidêmicos. Fatores como acesso à saúde, estigma social e dinâmicas virais em evolução continuam a desempenhar um papel complexo na abordagem desse problema de saúde global. Para além da tarefa essencial de controle viral, é necessário abordar as consequências a longo prazo tanto da infecção quanto do tratamento, que abrangem disfunção do sistema imunológico, danos gastrointestinais, anorexia, dor neuropática e as complexidades dos distúrbios neurocognitivos associados ao HIV (HAND).
Pessoas com HIV/AIDS comumente recorrem à cannabis para lidar com dor, náusea e perda de apetite, além de alívio do estresse, ansiedade, depressão e melhoria do sono. Enquanto a comunidade científica enfatiza a necessidade de pesquisas rigorosas para estabelecer a eficácia da cannabis no gerenciamento de sintomas relacionados ao HIV, evidências anedóticas e contexto histórico fornecem um pano de fundo muito interessante para essa relação.
Um capítulo intrigante da história da cannabis medicinal e do HIV ocorreu em São Francisco, Califórnia, no início da década de 1990. Fundado pelo ativista Dennis Peron e pela voluntária Brownie Mary, o San Francisco Cannabis Buyers Club (SFCBC) entregava cannabis a pessoas com recomendação médica, especialmente aquelas que sofriam com complicações relacionadas à AIDS. O SFCBC ajudou a transformar a percepção pública da cannabis medicinal, desafiando o estigma em torno do assunto e catalisando mudanças legislativas. Suas atividades e esforços de defesa contribuíram para a aprovação da Proposição 215 na Califórnia em 1996, a primeira iniciativa estadual nos EUA a legalizar a maconha medicinal. Essa legislação emblemática lançou as bases para iniciativas subsequentes de cannabis medicinal em todo o país, moldando fundamentalmente o discurso sobre a cannabis como uma intervenção médica legítima. Sua influência certamente atravessou fronteiras.
A investigação científica sobre os canabinoides no contexto do HIV está em andamento e é promissora. Além dos usos bem estabelecidos no controle da dor, redução da ansiedade, sono e melhoria do apetite, os canabinoides mostram promessa no enfrentamento de questões inflamatórias complexas comuns em pessoas vivendo com HIV (PVHIV).
Por exemplo, estudos indicam que o uso de cannabis em PVHIV está associado a uma carga viral mais baixa, menor circulação de monócitos CD16+ e contagens elevadas de células T CD4+, sugerindo uma aplicação potencialmente terapêutica.
O comprometimento neurocognitivo, de leve a moderado, persiste entre as PVHIV mesmo quando estão em terapia antirretroviral. Em comparação com aqueles sem HIV, eles são mais propensos a serem afetados por comorbidades fisiológicas e psicossociais. Um estudo conduzido em 2023 sugere que os canabinoides podem ter efeitos neuroprotetores para PVHIV que estão envelhecendo e correm risco de desenvolver níveis elevados de inflamação devido a comorbidades.
Um estudo conduzido em 2021 descobriu que indivíduos que usam cannabis diariamente têm níveis mais baixos de quimiocinas pró-inflamatórias associadas à patogênese do HIV. Essas quimiocinas estão ligadas a prejuízos em aprendizado, um dos HAND que afetam esses pacientes. O estudo sugere que o uso de cannabis medicinal pode ajudar a reduzir MCP-1 e IP-10, que são responsáveis pela inflamação persistente e impactos cognitivos do HIV.
Em um estudo in vitro de 2022, o CBD reduziu significativamente o número de vesículas extracelulares (EVs) liberadas por células infectadas. Esse efeito pode ser devido à redução da transcrição viral e ativação da autofagia. Como resultado, o CBD pode ter um efeito protetor mitigando o impacto patogênico das EVs no HIV-1 e infecções relacionadas ao sistema nervoso central.
Ainda, uma outra pesquisa descobriu que o uso recente de cannabis em casos de HIV está associado a marcadores inflamatórios reduzidos no fluido cerebrospinal e no sangue, sugerindo um papel potencial para a cannabis na redução da inflamação do sistema nervoso central em pessoas com HIV.
É importante ressaltar que o uso de produtos a base de cannabis em PVHIV deve ser acompanhado por um profissional qualificado para garantir segurança e eficácia. Olhando para o futuro, a parceria entre a cannabis e o tratamento do HIV mostra grande promessa em mudar a história, oferecendo esperança para uma saúde melhor e alívio para aqueles que enfrentam os desafios dessa questão de saúde global.
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Escrito por: Leticia Dadalt, PhD: Bióloga, apaixonada pela ciência da vida, traz uma bagagem acadêmica robusta para a arena da educação canábica. Sua jornada é dedicada a compartilhar conhecimento, quebrar estigmas e abrir caminhos para que mais pessoas possam explorar os benefícios terapêuticos dessa planta incrível.