A alopecia, ou queda de cabelo, é uma condição que afeta milhões de pessoas no mundo e impacta muito a autoestima. Estudos sugerem que o Sistema Endocanabinoide exerce um papel crucial no controle capilar, atuando através dos receptores CB1 e CB2 e também dos receptores TRPV e PPAR como moduladores do crescimento capilar, abrindo caminho para novas abordagens terapêuticas na alopecia.

A queda de cabelo é um processo natural e fisiológico, onde fios velhos são perdidos e substituídos por novos. Já a alopecia é uma condição médica que se caracteriza pela perda anormal de cabelo, podendo levar à calvície.

A alopecia pode ser causada for fatores genéticos, hormonais, estresse, doenças (como autoimunes, infecções fúngicas e problemas da tireoide), efeito colateral de medicamentos e tratamentos radio e quimioterápico.

Existem diferentes tipos de alopecia:

  • Alopecia androgenética: Mais comum, afeta homens e mulheres.
  • Alopecia areata: Queda de cabelo em formato circular.
  • Alopecia cicatricial: Causada por danos ao folículo piloso.
  • Eflúvio telógeno: Queda de cabelo difusa após um evento estressante.

O sistema endocanabinoide (SEC), descoberto na década de 1990, desempenha um papel importante na manutenção da homeostase celular. Estudos sugerem que o SEC exerce um papel crucial no controle capilar, atuando através dos receptores CB1 e CB2 e também dos receptores TRPV e PPAR como moduladores do crescimento capilar, abrindo caminho para novas abordagens terapêuticas na alopecia. 

Imagem dos receptores canabinoides na pele e cabelo. Adaptado de Ramer & Hinz (2022).

O CBD atua nesse sistema como modulador do receptor CB1. O bloqueio do CB1 resulta no alongamento da haste capilar, enquanto o TRPV1 regula o ciclo folicular (anagen, catagen e telógena). Além disso, o CBD aumenta a sinalização Wnt, promovendo a diferenciação de células progenitoras dérmicas em novos folículos pilosos e a manutenção da fase anágena do ciclo capilar.

Uma pesquisa de 2021 (1) investigou a aplicação tópica de um óleo de cannabis contendo cerca de 3-4 mg diários de CBD e quantidades mínimas de outros canabinoides por seis meses em 35 indivíduos com alopecia androgenética (AGA), o tipo mais comum de alopécia. Em média, observou-se um aumento estatisticamente significativo de 93,5% na densidade capilar após seis meses. Todos os participantes apresentaram algum crescimento de pelo, e não houve relatos de efeitos adversos. Homens apresentaram melhora ligeiramente superior à de mulheres, e a região do vértice respondeu melhor que as áreas temporais.

Outro estudo (2) investigou o uso de cannabis entre pacientes com alopecia areata (AA). Apesar de se saber menos sobre essa relação, suspeita-se que esses pacientes busquem terapias alternativas para lidar com o impacto emocional da doença. Através de uma pesquisa online, o estudo identificou que a maioria dos participantes com AA que utilizam cannabis (55,7%) o fazem para aliviar sintomas psicológicos associados à doença, como estresse, ansiedade e depressão. Curiosamente, 80,4% relataram não observar melhora na queda de cabelo propriamente dita, mas isso certamente é consequência do desenho amostral, que misturou o uso de diferentes canabinoides cujas ações sobre o SEC podem ser opostas.

A ativação do receptor CB1 pelos endocanabinoides AEA e pelo fitocanabinoide THC parece inibir o crescimento capilar através da redução do alongamento da haste capilar, inibição da proliferação de queratinócitos na matriz do pelo e indução da apoptose (morte celular programada) em folículos capilares cultivados. Por outro lado, o bloqueio do receptor CB1, promovido parcialmente pelo CBD, por exemplo, pode estimular o crescimento capilar. O CBD também influencia os receptores PPARγ, cuja ativação pode estimular o crescimento capilar ao influenciar genes relacionados à função saudável do folículo piloso. Um estudo pré-clínico (6) demonstrou que camundongos com deficiência de PPARγ apresentaram aumento da inflamação, alterações na queratinização da pele, alopecia e semelhanças com condições do couro cabeludo humano como caspa e alopecia cicatricial.

Ainda, um estudo recente (7) avaliou diferentes canabinoides antagonistas parciais ou completos do receptor CB1 e agonistas do receptor TRPV1 e TRPV4, e também com adição de alguns terpenos, encontrando resultados bastante promissores. Embora o mecanismo exato seja desconhecido, acredita-se que THCV e CBDV atuem como antagonistas completos do CB1, enquanto o CBD atue como antagonista parcial e possivelmente através da via de sinalização Wnt. Os três canabinoides funcionaram como agonistas do TRPV1. A adição de mentol, presente na hortelã-pimenta, provavelmente contribuiu para o rápido início da fase anágena. Esta formulação tópica de cannabis demonstrou ser superior à finasterida oral, minoxidil tópico a 5% e extrato tópico de CBD sozinho. 

Trabalhando por mecanismos distintos da finasteride e do minoxidil, os extratos de cannabis pode ser usado em conjunto com esses fármacos, potencialmente apresentando efeitos sinérgicos. No entanto, a segurança e eficácia dessa combinação precisam ser avaliadas mais a fundo.

Referências

  • Smith GL, Satino J. Hair Regrowth with Cannabidiol (CBD)-rich Hemp Extract – A Case Series. Cannabis. 2021 Apr 22;4(1):53-59. doi: 10.26828/cannabis/2021.01.003. PMID: 37287996; PMCID: PMC10212262.
  • Gupta AK, Talukder M, Bamimore MA. Natural products for male androgenetic alopecia. Dermatol Ther. 2022 Apr;35(4):e15323. doi: 10.1111/dth.15323. Epub 2022 Jan 27. PMID: 35044013.
  • Han JJ, Faletsky A, Mostaghimi A, Huang KP. Cannabis Use among Patients with Alopecia Areata: A Cross-Sectional Survey Study. Int J Trichology. 2022 Jan-Feb;14(1):21-24. doi: 10.4103/ijt.ijt_96_21. Epub 2022 Feb 1. PMID: 35300098; PMCID: PMC8923141.
  • Han JJ, Faletsky A, Mostaghimi A, Huang KP. Cannabis Use among Patients with Alopecia Areata: A Cross-Sectional Survey Study. Int J Trichology. 2022 Jan-Feb;14(1):21-24. doi: 10.4103/ijt.ijt_96_21. Epub 2022 Feb 1. PMID: 35300098; PMCID: PMC8923141.
  • Gupta AK, Talukder M. A cannabinoid Hairy-Tale: Hair loss or hair gain? J Cosmet Dermatol. 2022 Dec;21(12):6653-6660. doi: 10.1111/jocd.15427. Epub 2022 Oct 14. PMID: 36181341.
  • Ramer R, Hinz B. Cannabinoid Compounds as a Pharmacotherapeutic Option for the Treatment of Non-Cancer Skin Diseases. Cells. 2022 Dec 16;11(24):4102. doi: 10.3390/cells11244102. PMID: 36552866; PMCID: PMC9777118.
  • Wal P, Wal A. CBD: A Potential Lead against Hair Loss, Alopecia, and its Potential Mechanisms. Curr Drug Discov Technol. 2023 Jul 20. doi: 10.2174/1570163820666230720153607. Epub ahead of print. PMID: 37475557.

Escrito por: Leticia Dadalt, PhD: Bióloga, apaixonada pela ciência da vida, traz uma bagagem acadêmica robusta para a arena da educação canábica. Sua jornada é dedicada a compartilhar conhecimento, quebrar estigmas e abrir caminhos para que mais pessoas possam explorar os benefícios terapêuticos dessa planta incrível.

Com sede no Vale do Silício, somos líderes em biotecnologia para suplementação nutricional, com certificado de boas práticas em manipulação pela regulamentação dos Estados Unidos. 

Canabinoides para o Tratamento de Enxaquecas

O potencial terapêutico dos canabinoides para o tratamento de enxaquecas é um campo empolgante e em rápida evolução. Embora as evidências atuais ainda estejam em estágios iniciais, a modulação do sistema endocanabinoide oferece uma abordagem promissora para o manejo da dor e dos sintomas associados à enxaqueca. Alguns estudos descobriram que pacientes que utilizam cannabis experimentam episódios de enxaqueca menos frequentes e menos intensos. Pesquisas contínuas e ensaios clínicos bem desenhados são essenciais para elucidar completamente os benefícios e as limitações das terapias baseadas em cannabis, abrindo caminho para opções de tratamento mais eficazes e personalizadas para os pacientes que sofrem de enxaqueca.

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